A agenda do desenvolvimento da indústria e do Brasil deve incluir o aumento da produtividade e a remoção dos obstáculos que aumentam os custos da produção, como as deficiências na infraestrutura, a complexidade do sistema tributário, o excesso de burocracia e a instabilidade do ambiente macroeconômico. Essa é a conclusão dos participantes do seminário Desafios para a Reindustrialização Nacional, realizado pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (7), em Brasília.
“O Brasil precisa superar uma das piores crises da sua história e esse é o momento de discutirmos uma agenda para reverter o processo de desindustrialização do país”, afirmou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que preside a Comissão do Trabalho da Câmara.
Na avaliação do professor Gilberto Bercovici, da Universidade de São Paulo (USP), a saída para o Brasil retomar o crescimento econômico está no fortalecimento da indústria. “É a indústria que desenvolve produtos e inovações e facilita a mobilidade social”, disse ele.
Bercovici disse ainda que o fortalecimento da indústria brasileira depende, entre outras coisas, de políticas de juros e de concessão de crédito que incentivem o investimento das empresas. Também requer uma política energética coerente. Para Bercovici, o Brasil não se desenvolverá exportando apenas produtos primários. “A questão industrial é central para o país”, completou.
O gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, lembrou que a indústria tem uma participação de 21,2% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. É responsável por 22,2% do emprego formal, 22% da massa de salários e por 38,1% das exportações.
Mesmo assim, ressaltou Castelo Branco, a indústria brasileira é menos relevante para a economia do que a dos países asiáticos, a da Índia e até a da Argentina. “A indústria brasileira tem um tamanho menor do que deveria ter. É menor do que foi há duas décadas”, lembrou o economista. Segundo ele, a indústria brasileira vem perdendo espaço nas exportações e na produção mundial de manufaturados.
Castelo Branco explicou que a perda de importância da indústria na economia é uma característica de países desenvolvidos. “Quando a renda da população alcança níveis elevados, a tendência é que a indústria dê lugar aos serviços”, acrescentou. No entanto, no Brasil, a indústria vem perdendo espaço, mesmo sem ter registrado o aumento de renda da população. “O que ocorreu no Brasil foi uma desindustrialização precoce”, afirmou Castelo Branco. Isso, segundo ele, é resultado da perda de competitividade da indústria brasileira, provocada por baixa produtividade, custos elevados, infraestrutura deficiente, baixa qualificação da mão de obra, insegurança jurídica, sistema tributário caro e complexo, elevado custo do crédito e excesso de burocracia.
Castelo Branco destacou que o Brasil precisa desenvolver novas políticas para o fortalecimento da indústria. Essas políticas devem estar conectadas com a quarta revolução industrial, chamada indústria 4.0, buscar o aumento da competitividade e aproximar o país da economia internacional.
POLÍTICA INDUSTRIAL – Para o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Luiz Augusto Ferreira, o desafio do país é agregar valor ao produto. Como exemplo ele citou o caso do café e das frutas, dois importantes produtos agrícolas da pauta de exportações brasileiras. Outros países compram esses produtos e revendem ao Brasil em forma de café em cápsulas e sucos processados pelo triplo do preço. “Precisamos aprender a transformar nossos produtos em valor”, disse Ferreira.
O pesquisador Ronaldo Carmona, da USP, afirmou que a indústria de transformação dissemina os avanços tecnológicos por toda a economia. “A indústria é a mola-mestra do desenvolvimento”, disse. No entanto, acrescentando ele, as políticas industriais foram ineficientes para estacar o processo de desindustrialização do país. Isso ocorreu principalmente porque as diversas políticas esbarraram com um ambiente macroeconômico adverso e em medidas resultantes do voluntarismo dos governantes.
Segundo a professora Carmem Feijó, da Universidade Federal Fluminense (UFF), o fortalecimento da indústria requer muito mais que política industrial. “São necessárias políticas fiscal, monetária e macroeconômicas consistentes”, destacou. O gerente-executivo de Política Industrial da CNI, João Emílio Gonçalves, acrescentou que o aumento da produtividade é indispensável para a recuperação da indústria brasileira.
Ele acredita que a revolução da Indústria 4.0 abre uma série de oportunidades para a indústria brasileira e trará ganhos de produtividade para o setor. As vantagens da Indústria 4.0, disse Gonçalves, é o aumento da qualidade, a redução do tempo de desenvolvimento de produtos, a flexibilidade de produção e a eficiência no uso dos recursos.
Também participaram do seminário Carlos Alexandre da Costa, diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Marina Mattar, coordenadora da Comissão de Relações Governamentais da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), José Álvaro Cardoso, economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos.
Da Agência CNI de Notícias
Por Verene Wolke
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